Ando lendo muito o arco de HQs de Lúcifer, escrito por Mike Carey, daqueles caras que nasceram para provar que a linha vertigo não vai morrer com Neil Gaiman. Tenho um apreço enorme por mitologia e folclore – aliás, se alguém conhecer um mestrado ou pós nesse campo aqui no Rio de Janeiro, favor avisar – e o primeiro arco que o autor escreveu tem muito disso.
Paralelamente, outra leitura de cabeceira minha é América Mítica, livro que encontrei por acaso em um desses camelôs que vendem livros na rua. É escrito por Rosana Rios, que já virou meu alvo de futuras leituras em breve. Basicamente, é uma coletânea de mitos de povos nativos e pré-colombianos com histórias fantásticas, que por uma série de questões (indesculpáveis) não aprendemos nas escolas. Recomendo muito.
As duas leituras coincidiram no mito de criação dos Jicarilla (leia a segunda história deste link. Texto em inglês) e achei muito legal a premissa que Carey demonstrou. Basicamente, enquanto o cristianismo conta as coisas em uma cronologia (primeiro as trevas, depois a luz, etc.) os Jicarilla, que são uma tribo dos apaches, narram como uma jornada. Um caminho dos homens saindo da escuridão para as trevas. “É a coisa da qual o parto é uma metáfora”, explica Lúcifer (sim, o diabão mesmo).
Partindo desse princípio e lendo o capítulo 2 do livro de Rosana, estou escrevendo um conto que:
– Explique esse mito de forma narrativa.
– Seja uma história fechada em si mesma, mas que possa servir para iniciar uma(s) outra(s) história(s).
– Respeite o conceito da história original, mas sem ficar totalmente preso à ela.
O terceiro ponto talvez seja o mais polêmico então vou explicar. Não tenho a pretensão de melhorar uma narrativa milenar, mas simplesmente de incluir coisas que entendo melhor. Se algum navajo ou estudioso das tribos norte-americanas se sentir ofendido, basta indicar uma leitura complementar para que repita a experiência outras vezes.
E quem quiser ler outros contos meus, basta clicar aqui.