Tinha a ver com palavras.
Quando esqueceu a merendeira na escola, ouviu do pai durante todo o regresso sobre responsabilidade. Era uma palavra encouraçada, que se abria como um cobertor, caía como uma pluma e pesava uma tonelada.
Tergiversou sobre o significado. “Responsabilidade” pesava em seus ombros como uma mochila do segundo grau. A poltrona traseira do carro era um palco com a imensa plateia de seus pais a lhe olharem pelo retrovisor. Tinha em si toda vergonha do mundo. Era alvo de qualquer calibre que disparasse reprovação. Responsável.
O carro parou e correu para o portão da escola. Era noite e não havia ninguém para testemunhar sua punição. A freira esticou o braço para entregar a merendeira e sorriu para ele. Era sua única amiga naquela ilha. Voltou ao carro, mas deixou aquele seu sorriso para trás.