Todo mundo já deve ter recebido uma corrente de email que lista todas as coisas que as crianças tinham nos anos 80. O texto sempre se encerrava com uma mensagem edificante de que os trintões fomos os últimos a ter uma infância feliz. Cuméquié ?

Pergunte aos trintencistas da atualidade quantos cabelos não perderam tentando assistir o último capítulo de Caverna do Dragão que jamais existiu. Aquele em que a Uni era um diabo e tudo mais. Só o fato de alguém ter inventado uma história dessas já prova que a nossa felicidade infantil é mais superestimada do que a programação da TV da época. E os Smurfs, derrotaram o Gargamel de vez? O He-Man conseguiu vencer o Esqueleto antes de ficar branco*?

A nossa infância não foi sem traumas. Já existiam todas as imposições masculinas nos programas infantis com apresentadoras usando roupas que não queríamos ver em nossas irmãs. E a gente ainda tinha que dizer pra nossa mãe que não tinha problema. Era a antecipação de todos os conflitos que o time dos casados viria a passar, mas só que ninguém terminou casado com a Xuxa.

E ainda tinha uma ameaça bem pior que divórcio ou brigar com a mamãe:  mudar o canal pra ver o Bozo. SBT era só em caso de conferir se alguém passava aquele trote para o programa. O do tomate cru. Porque a gente era inocente, né?

Crianças que agora completam trinta anos passaram a vida inteira brincando de todos os desenhos animados que viam na TV. Agora que nos tornamos adultos a gente não faz mais essas coisas infantis. Vamos ao cinema ver tudo isso com pipoca e o (a) respectivo(a). “Você não tá muito velho pra ver filme de robozinho não ?” Velho nada. Depois a gente ainda vai no bar discutir se o Optimus Prime vencia ou não o Predador na porrada. Filosofia pura.

Diga a qualquer fã de Ben 10 que bom mesmo era o alienígena que cuidava do Benji. Essas crianças que curtem Max Steel não sabem como eram os perigos do He-Man, que enfrentava o Esqueleto, tinha uma irmã em outra dimensão e não conseguia ter um boneco que fosse articulado decentemente. E ainda virou sueco em um desenho que ninguém mais lembra. Só quem tem trinta anos.

Essas coisas aqui e ali foram criando uma frustração nos trintões de hoje? Bom, nós não vimos o Hank levar a Sheila para o parque como adolescentes normais. Os terroristas do Cobra nunca vão presos e até hoje ninguém entende muito bem porque o Seu Madruga não terminou com a Dona Clotilde. E o que houve com o mascote da Punky na série da TV, aquele bichinho que voava e fazia magia com as orelhas? Será que a Vicky cresceu e virou uma mulher-robô?

Mas pergunte aos jovens de vinte e poucos e eles vão ter os seus dramas da cultura pop também. Toda criança teve.

Temos trinta anos e já devíamos saber que nossa infância não foi especial. Bom, talvez tenhamos sido as únicos crianças que deram um sentido ao pogobol. Não é pouco.  E quer saber? Iria fácil em um filme do Caverna do Dragão só para ver a Diana e o Hank casados…

*Branco e loiro. E só falam no Michael Jackson foi injustiçado…

escrito por tcordeiro
Meu nome é Tiago Cordeiro e trabalho com conteúdo (textos, roteiro, ficção e não ficção) e digital. Atualmente, sou roteirista e sócio da Scriptograma.

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