Era uma história antiga. Havia escrito para a coluna de uma revista mensal, que não chegara ao décimo número. O enredo falava de um homem misterioso, que acompanhava as pessoas na calçada com um olhar até entrarem juntos em um bar. Abordava cada coadjuvante com uma proposta sobre a vida ou morte.
Não lembrava do final. Já vivia os tempos de “piloto automático”.
Pediu a quarta dose de uísque. Virou a terceira de um gole só, com o segundo remédio da noite. O analgésico sempre diminuía melhor as dores do pulso depois do anti-inflamatório. O próximo passo seria ir ao banheiro trocar o emplastro, mas antes sentiria pena de si mesmo mais uma vez. Era metódico.
Foi um momento antes disso que viu o vulto pela vitrine do bar. Não mais do que um momento. Os olhos se cruzando enquanto lia os lábios do homem misterioso. Apenas uma história comum, que não lembrava mais do fim. Respondeu que sim e pagou a conta. Ao sair pela porta da frente, recebeu um tapa nas costas do velho amigo. Lembraria do final antes da azia.