O balzaquiano é um forte. Começa superando o fato de que “balzaquiano” é uma apropriação indevida de balzaquiana, termo cunhado exclusivamente para o sexo feminino a partir do sobrenome de Honoré de Balzac, autor de “A Mulher de Trinta Anos” (imagem). Talvez mais do que forte, os balzaquianos sejamos todos um pouco sem vergonha também.
Não é sem motivo. Ser desavergonhado permite aos trintões seguirmos descolados mesmo com menos cabelo ou mais barriga diante da lembrança ainda próxima de nossa aparência de vinte e poucos anos. Tem aqueles homens de trinta, verdadeiros traidores da sociedade, que melhoram com a passagem dos anos. Perdem peso, tiram o aparelho , vão para a academia… Mas um trintão de respeito jamais tentará ser tão jovem quanto aos vinte (até porque isso a gente deixa para quando completarmos quarenta).
Trinta e poucos anos é uma idade belíssima hoje em dia. A gente não lembra bem do Paolo Rossi, mas tem direitinho na cabeça a Copa de 94 e a de 2002. Se os mais velhos têm bastante lembrança ruim para esquecer, nosso papo com os mais jovens tem muito mais história do que mesa de bar. “Fenômeno era o baixinho. O Romário era mais craque que o Ronaldo!” , “Cafu coisa nenhuma. Lateral tem que cruzar que nem o Jorginho fazia” e por aí vai…
Se o objetivo for conquistar alguma vintona intelectual a coisa melhora. Só os trintões conseguem explicar o que era cruzeiro, cruzado novo e fingir que ainda lembram o que veio primeiro sem parecer ridículo diante das mais jovens. O problema é se com trinta anos você quiser conquistar uma moça da mesma idade. Periga ela ficar pasma de você não lembrar quando caiu o Muro de Berlim e que o show que você gostaria de ir se tivesse uma máquina do tempo não seria o Rock in Rio de 1985. E não vale usar o Google: você ainda está muito novo pra isso.
Trinta anos. Rock in Rio, Diretas Já, AIDS – e um monte de gente boa que ela levou -, funk, pagode e axé. Um homem de trinta anos nunca vai admitir, mas lembra bem o que era a lambada também. Dizem que alguns até dançaram! Fortes e um pouco desavergonhados, sem dúvida.
Somos trintões sim. Com menos sabedoria que aqueles presunçosos dos 40 que acham que a nossa vida ainda não começou, mas com um tiquinho a mais de ousadia. Ou com menos energia que esses garotos de vinte, que mal saíram de suas fraldas, mas ganhamos na paciência. Ainda sopraremos muitas velas.