O espírito possuía enorme influência no seu humor. Seria quase um trocadilho óbvio dizer que mexia com seu astral, mas ele detestava este tipo de infâmia. Aliás, odiava quase qualquer coisa minimamente criativa. A raiva de qualquer criação era sua prisão, seu gulag particular. Nela enterrava-se, vítima da tortura de sua própria autopiedade.
Cada história bem contada era um ataque pessoal. Uma piada que rissem era um lembrete de como não era engraçado e alguém que publicava um livro lhe recordava de como não conseguia acabar o seu. Seria o terceiro romance de um escritor bem-sucedido. Mas parecia uma missão impossível. O espírito se divertia em lhe impedir de trabalhar aumentando suas próprias dúvidas e idiossincrasias.
Recorreu ao cigarro influenciado pelo agressor espiritual. Conseguiu uma voz mais charmosa e nenhuma página a mais. Passou a escrever sobre o bloqueio criativo mas sentiu vergonha do resultado. Ouvia risadas pelos cantos quando revisava sua crônica.
Largou o cigarro e aderiu ao surrealismo. Escrevia com sono, bêbado e até drogado. Simplesmente escrevia. Ao final de três meses entregou seu terceiro livro ao editor que o recusou. “Você não pode ter perdido sua alma”, revelou. Enfurecido matou o primeiro diabo com quem trombou na rua e lhe olhou feio. Foi preso.
Seu “diário de um aprisionado” se tornou seu maior sucesso. Hoje, é seu primeiro dia fora da cadeia. Mas ele ainda tem raiva. E o espírito ainda lhe acha adorável.