Sentou na cadeira e tomou o café após um longo suspiro. Olhou todos os post-its colados na parede com as frases que usava para compor o personagem. Iniciou os trabalhos com uma sonora gargalhada, para mostrar que já sentia vontade de rir de qualquer coisa ou coisa alguma quando vivia aquele ser. No limite da psicopatia interrompeu e se voltou para a mesa e suas leituras de cabeceira.
A apostila com exercícios de Stanislavski pareceu quase uma tabuada, de tão decorada. Novamente ensaiou o gesto de encerrar as risadas enquanto limpava a boca com o lenço preto. A escolha da cor tinha o motivo óbvio de não exibir a sujeira do batom que usaria em cena, caso o ato fosse literal demais. Massageou a sua nuca e olhou para o teto.
Cego em si mesmo, contemplou pela primeira vez uma rachadura no teto. A forma como a estrutura se quebrava era quase obscena de tão cômica. Segurou forte o riso e decidiu dar uma volta. Estava trabalhando demais mesmo.