Começou a redigir sua história. Não sabia o final, mas se sentia estranhamente inspirada com uma convicção avassaladora de que chegaria ao fim em um impulso só. Ainda que levasse mais do que três dias e três noites, parecia ser plenamente capaz de cumprir aquela etapa. Era apenas ela e o computador, desconectado de internet ou qualquer distração.
Duas pessoas que se amavam, mas haviam se perdido da vida por um motivo fútil. Igualmente desimportante era a razão pela qual se reuniam novamente:
“Nossa ação se dava sempre pelo diálogo. O desfecho que esperava não vinha com um beijo, uma madrasta má e nem nada do tipo. Eram só as falas, as conversas intermináveis enquanto as recordações explicavam o desenlace”, ela ressaltou.
Parecia bom e tão certo. Quase original. Insistiu naquele enredo sem subtramas até que sua musa inspiradora dormiu de tédio com a obviedade de suas falas. O casal tergiversava sem definir o caminho daquela relação. Não havia começo do fim e nem fim do começo. Arrastou-se.
Suspirou e salvou o arquivo ao final de algumas horas. Continuaria depois. Continuaria? Sim, continuaria. Mas não a mesma jornada de amantes indecisos. Em alguns dias, a musa viria novamente. Começou a redigir sua história.