Seu nome era Mekô.
Ela era a deusa-onça, selvagem e poderosa temida por todos os homens. As mulheres educavam seus filhos com histórias brutais sobre seus dentes e cada animal agradecia à Palop, o pai criador de tudo, por cada dia em que não cruzavam seu caminho.
À Mekô cabia cuidar do fogo, para que os homens não o dominassem. Esta era a vontade de outras deidades que temiam o poder destrutivo do homem e confiavam na deusa-onça e em seus dentes para impedir isto.
Mas dois deuses, Paricot e Andarob, se compadeceram dos homens que morriam de frio e comiam carne crua para sobreviver. Pediram a Orobab, o pássaro de cauda comprida, que roubasse o fogo de Mekô e o entregasse aos homens. Engenhosos, ambos passaram em seu corpo uma substância amarga, que lhe tirava o sabor.
Orobab se aproximou da deusa-onça, que não lhe deu atenção e nem se preocupou. Afinal, Orobab não tinha braços para carregar o fogo. Esperto, o pássaro usou sua cauda comprida para chamuscar suas próprias penas e voar rapidamente próximo dos homens. Ao falhar em sua missão, Mekô fora condenada a comer carne crua para sempre.
Orobab sabia que nenhum homem poderia ser senhor do fogo e por isso havia formulado um plano. Com sua cauda em chamas sentou-se em Urucum e em outras árvores até que o fogo morresse na madeira. E ensinou a muitos homens que poderiam criar o próprio fogo desde que esfregassem um galho em outro. Assim, os homens controlaram o fogo, que jamais teve um senhor ou senhora novamente.
E é por isso que mesmo controlado pelo homem, as vezes o fogo se rebela e se volta contra quem acha que é seu dono. Os homens devem tomar cuidado pois nem mesmo Mekô pôde guardar o fogo.