Em 2002, o mundo artístico crucificou a atriz Regina Duarte ao falar em medo para defender a permanência do PSDB no poder, com o então candidato José Serra. A reação instantânea tinha o seguinte princípio: era um absurdo impedir a alternância no poder com o discurso do medo da mudança.
Em a Alma Imoral, de Nilton Bonder, o rabino explica que a tradição é a guardiã do passado. Assim como o conservadorismo se coloca como defensor de nossas tradições para contrapor a necessidade de mudanças que toda sociedade tem. Bonder explica que a traição seria a guardiã do futuro, a garantia de que vamos mudar. Judeus só existem até hoje porque mudaram o dogma de que apenas filhos de pais judeus eram judeus após a aniquilação em massa de seus homens e estupro de suas mulheres. Se passou a considerar que o filho de mães judias seria judeu. E assim o judaísmo persiste milênios depois enquanto outras religiões estão quase extintas.
Por mais que tudo o que construímos seja digno de proteção, a mudança é vital para a vida. E para qualquer País. Nem mesmo na Noruega você encontrará alguém que ache que as coisas são boas e nada pode melhorar. Talvez seja por isso que em política raramente o discurso do medo acaba em coisas boas. Serra perdeu as eleições para um Lula três vezes derrotado em eleições presidenciais.
Quando o PT usa o medo para defender suas conquistas não mostra apreço pelo que construiu. O discurso de medo reflete também o temor de quem discursa em perder. Mas as derrotas são normais na política, que está sempre mudando. É inútil querer impedir isso ao invés de garantir ao eleitor que pode atender seu desejo de mudança. O maior medo que quem vota tem é justamente o de perder a esperança.