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Dizem por aí que palavras têm poder. Imagine então a importância de um nome. Muitos deuses e pessoas não revelavam seus nomes para ninguém porque no tempo da vó da vó da vó daquela vó, saber o de qualquer um dava o seu poder. É por isso que sempre gostavam de um título como Fulano, o deus das tempestades e por aí vai. O título virava o nome e o nome verdadeiro virava um segredo.

Só que isso se perdeu. Como outras histórias. E nomes passaram a ser de conhecimento público. A gente até se esforça para que todo mundo conheça, mesmo sem saber o tamanho da encrenca que estamos arranjando. Pior ainda é quando alguém resolve escolher um novo para a gente: vagabunda, arroz, morcego, etc.

Falam por aí que o Bocão era o campeão dos apelidos. Todo apelido que dava em alguém, pegava de um jeito que a pessoa convivia com aquilo muito tempo depois. Juquinha era chamado por nome de bala a vida toda e quando foi apresentar o Jornal Nacional, o máximo que conseguiu foi que acrescentassem o sobrenome. Garrinchão virou escritor respeitado, mas o mundo sabia que sua letra nunca foi bonita. E por aí vai.

Ninguém pensava muito a respeito, mas era fato. Você podia ter o nome mais legal do mundo, mas se conhecesse Bocão você ia se chamar como ele quisesse. Todo apelido vinha com uma história engraçada sobre o porquê daquela alcunha, que sempre se encerrava com uma imitação do recém-batizado. O cara era um artista.

Sempre tinha alguém na rua que resolvia desafiar o Bocão e recusar o batismo. Era pior. A história do apelido ganhava um epílogo e a emenda acabava pior do que o soneto. O Capitão virou Capitão Choro, por exemplo. E nos seus últimos dias só chamavam pelo sobrenome. Dureza. Mas enfrentar o cara sempre era burrice.

E nas conversas de fim de tarde, o cara sempre pregava a sua sagrada liturgia. “Apelido tem que aceitar. Eu sempre aceitei o meu, pô”. Era o Evangelho Segundo Bocão. E todos deviam respeitá-lo. Todo mundo cresceu e alguns conseguiram até se safar dessa, mas seus filhos pagaram o pecado. E os filhos de seus filhos também.

Por que toda rua, prédio ou bairro tem um Bocão, que volta e meia troca de nome para não dar mole. Afinal, saber o verdadeiro nome do Bocão te dava um poder enorme sobre o cara. Por que quem dá nome para os outros, morre de medo que descubram o seu. Aquele de verdade.

Como chamavam ele quando você o conheceu?

É tudo verdade
O texto acima é 99% verdadeiro. Nomes têm um poder enorme, apelidos também e o Bocão vive por aí até hoje. No desenho do Scooby Doo chamavam ele de Ruivo Hering, inclusive. É tudo culpa dele.

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escrito por tcordeiro
Meu nome é Tiago Cordeiro e trabalho com conteúdo (textos, roteiro, ficção e não ficção) e digital. Atualmente, sou roteirista e sócio da Scriptograma.

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