Sempre tenho o instinto de tentar procurar algo que ninguém comenta quando uma notícia domina as timelines alheias. Do caso bizarro e inadmissível da vítima  agredida e presa a um poste me chamou atenção o nome de quem denunciou: Yvonne Bezerra de Mello. Ela é artista plástica e ajudava as crianças na Candelária chacinadas anos atrás. Por sua luta com gente esquecida pela sociedade, foi retratada em um documentário de uma cineasta alemã intitulado Guerreira da Luz.

Não é de graça. Yvonne e sua luz lutaram por menores chacinados em tempos que até considerávamos mais bárbaros do que hoje. Muito tempo depois, precisa lidar com críticas dos reacionários em desenvolvimento por ter ajudado um ser humano ferido e preso sem autorização do Estado. Choca. “Quando divulguei as fotos na internet, muita gente veio dizer que ele é ladrão, que tinha que ser punido mesmo. Os furtos na região (do Flamengo) aumentaram muito, eu sei disso, mas não sei quem é o rapaz. Se houver cometido algum crime, quem deve prender é a polícia.”, disse. Choca mesmo. Embora alguns prefiram aplaudir.

Desses tempos em que se amarra pessoas em poste para os aplausos da Santa Inquisição 2.0 fica a perseverança de Yvonne, há décadas sem desistir do ser humano. É evidência  de que ainda resta alguma civilização em nós mesmo com a turba surda exigindo a legitimação da lei do Capitão Nascimento. Quem será o próximo a voltar para o saco? Ou para o poste?

Se redes sociais permitem que você leia e siga quem quiser, vou optar por prestar mais atenção no que ela diz ao invés do que alguns amigos meus falam. Desculpa, amigão, mas sua opinião é digna de qualquer membro do PFI (Partido Fascista da Internet). E que os marginais que prenderam o sujeito ao poste sejam severamente punidos. Assim como a vítima deve ser punida por qualquer crime que tenha ou venha a cometer. Mas pelo Estado e não por milícias.

Até lá, a gente tenta não desistir do ser humano também.

PS: Yvonne comanda o projeto Uerê, que ajuda crianças e comunidades carentes. A ONG aceita doações e trabalho de voluntários.

escrito por tcordeiro
Meu nome é Tiago Cordeiro e trabalho com conteúdo (textos, roteiro, ficção e não ficção) e digital. Atualmente, sou roteirista e sócio da Scriptograma.

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